terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Idade não é documento

Em mais um dia de rotina; vou para mais uma audiência, mas desta vez na própria Comarca, aqui em Viamão.
Adentro ao Foro, confesso que faziam “anos” que não entrava neste Foro, fui em algumas audiências quando ele estava no antigo endereço: Rua Mário Antunes da Veiga – Centro;
O Foro esta todo renovado, elevadores modernos, instalações impecáveis.

Eu ali, esperando meu horário de audiência, sentei - me nos bancos à espera – logo a minha frente, vi uma senhora, aparentemente com seus 60 anos de idade, ficou fixa a me olhar... preocupei-me, sem ela perceber, dei-me uma olhada geral, para certificar que não estava “mulambo” – se a camisa estava passada corretamente, se estava com os devidos frisos, se os cadarços dos sapados estariam desamarrados – mas não! Nada estava faltando na minha “indumentária”.

Após a chamada, fui para audiência... depois de 35 min. Sai da vara do JEC – Juizado Especial Cível – e então, quem eu vejo ali sentada, a me “admirar”? A senhora novamente.
Fiquei preocupado, pois, tinha sim algo que eu mesmo não estava a entender. Fiz algo errado, ou não sei.
E então, em um gesto único, a senhora literalmente “voou” em minha direção e me questionou:

- “ Com licença, o Dr. não escreve para o Jornal de Viamão?”
Na hora me subiu um frio na barriga, pensei, “ Nossa! Escrevi algo que ela não tenho gostado”
Respondi: “ – Sim, deixe o Dr de lado, a senhora conhece o Jornal? “
Senhora: “ Claro! Leio sempre o Jornal, ainda mais agora que ganhei um presente de meus netos um Tabléti”
Respondi – “ Tabléti? A sim, um Tablet, que pode acessar a internet é isso?”
Senhora: - “Sim, isso mesmo! Antes eu entrava no Orkut só em casa, jogava a “fazendinha”, agora, posso levar o Tabléti para qualquer lugar, olhe! Ele serve até dentro de minha bolsa!”

Sim para minha surpresa Dona Maria, com seus 67 anos de idade, cabelos grisalhos e perguntas na ponta da língua, era a mais nova “internauta”... ganhara de presente de deus netos um Tablet, e estava muito feliz, e quis me contar pois, lia o nosso jornal e também leu minha coluna.
Fiquei pasmo, pois, ela gravou muito bem minha fisionomia. E sabia com firmeza o título da primeira crônica que ela leu – O Tempo Engatinha -
Apesar que estou a pouco tempo compondo o “time” do Jornal, já me sentia em casa, com os elogios que Dona Maria ali “despejava” referente ao Jornal.

Para ter certeza que ela tinha lido minha coluna, como bom observador, fiquei atento a cada detalhe, para ter certeza que coincidia... dito e feito. Sim! Dona Maria tinha lido e parece que relido inúmeras vezes o que eu escrevi.

Dona Maria, diz que realmente não entende o porque, que as coisas simples da vida como jogar bolita, hoje os jovens não entendem.

- “Meus netos, Pedro e Cláudia, apenas ficam com seus computadores e mais nada... eles não entendem o que é brincar na rua como no meu tempo. Eu vou no computador, quando não estou tricotando, apenas para cuidar meus bichinhos na fazenda. Quando eu era nova ( risos de Dona Maria) nós brincávamos com as filhas da Dona Flávia, do final da rua; sim nós brincávamos com as bonecas, nós que “confeccionávamos” as roupas de nossas bonecas, e hoje? Nada! Elas já vem prontas, embaladas e nada de realmente brincar nem mesmo juntar as amigas para um boa diversão.”

Fiquei por uma hora e quarenta minutos de “bate-papo” com minha mais nova amiga. Uma amiga de verdade, acostumada com o dia dia, e nem um pouco preocupada com sua idade.
Não importa para Dona Maria os dias... e sim a importância que eles trazem.
Para fechar a conversa e para minha surpresa Dona Maria pergunta:
- “ Dr. o Sr. Tem Facebook”?
Então, tornei-me fã de carteirinha de Dona Maria do Rosário Santos;
Quando chego em casa e ligo computador, quem está ali para eu aceitar no Facebook?
 
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